A Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP comemora os 85 anos de contribuições da Coleção Entomológica de Referência para o conhecimento científico sobre insetos na área de pesquisa e ensino. A coleção tem como legado sua importante contribuição histórica para o avanço da entomologia médica no Brasil e no mundo, além da influência para o desenvolvimento de políticas públicas e estratégias de controle de doenças intermediadas por insetos. Haverá uma programação especial nos dias 4 e 5 de julho, das 14h às 17h30, no Anfiteatro Paula Souza da Faculdade, na Avenida Doutor Arnaldo 715, no bairro de Cerqueira César, em São Paulo, com transmissão on-line pelo canal do Youtube (veja mais informações abaixo).

O Laboratório de Entomologia, vinculado à Seção de Higiene Rural e Parasitologia, foi criado durante a campanha realizada para o controle da malária, que assolou, na década de 1930, os Estados do Ceará e do Rio Grande do Norte. A malária tinha como vetor uma espécie exótica de mosquitos, Anopheles arabiensis, causando uma epidemia de malária, com 140 mil casos naqueles dois Estados. A identificação e a incriminação do mosquito foram possíveis graças às colaborações estabelecidas entre pesquisadores do então Instituto de Hygiene e da Fundação Rockfeller, eliminando a espécie exógena e a interrupção da malária nos dois Estados.

As pesquisas entomológicas na FSP tiveram seu desenvolvimento graças às iniciativas de John Lane e Paulo Cesar de Azevedo Antunes, e com os estudos entomológicos ganhando destaque cada vez maior, em 16 de julho de 1937, foi criada a Coleção Entomológica de Referência (CER) da FSP, junto do Laboratório de Entomologia, atualmente parte do Departamento de Epidemiologia da FSP. Foi graças a Lane e a Antunes, e à Coleção Entomológica, que o ciclo silvestre da febre amarela foi amplamente estudado no Brasil, principalmente nos dois grandes polos de estudos entomológicos em saúde pública da época: a própria FSP e também a Fiocruz, no Rio de Janeiro.

A coleção para insetos de interesse de Saúde Pública foi formada sob a influência dos entomólogos americanos Nelson Davis e Raymond Shannon. Esses dois pesquisadores trabalhavam para a Fundação Rockfeller no Brasil, em campanhas de controle da malária, febre amarela e outras endemias veiculadas por artrópodes hematófagos que dizimavam a população brasileira, em especial, a do Estado de São Paulo. Também tiveram participação intensa no estabelecimento da coleção os entomólogos Augusto L. Ayroza Galvão, Renato R. Correia, José de O. Coutinho e Nelson L. Cerqueira. Como consequência das colaborações estabelecidas, foram feitas revisões e estudos taxonômicos de diversos grupos de insetos de interesse médico que deram visibilidade internacional aos entomólogos brasileiros. Dessa maneira, a CER passou a atrair pesquisadores de diversos países para a formação em entomologia médica, em incontáveis cursos que foram ministrados na FSP.

O pioneirismo da CER continua marcante em vários estudos básicos sobre aspectos epidemiológicos de doenças transmitidas por insetos hematófagos, bem como no reconhecimento e identificação faunística de vetores, incluindo do tigre asiático Aedes albopictus, que foi registrado pela primeira vez no Brasil em 1986, sem a necessidade de se recorrer a taxonomistas estrangeiros. Isso foi possível graças à presença de espécimes do Aedes albopictus no acervo da CER da FSP, obtidos através de intercâmbios realizados em 1960.

O acervo

A sala da CER recebe o nome do professor Paulo Forattini, formado em Medicina pela FMUSP em 1949 e especialista em entomologia médica pela FSP. Suas pesquisas contribuíram para o controle da doença de Chagas no Estado de São Paulo. O acervo da coleção permitiu a identificação do Aedes albopictus, também conhecido como mosquito-tigre-asiático e transmissor das principais arboviroses. Por meio de comparações com espécimes locais, Forattini realizou a primeira detecção dessa espécie, que invadiu o país em 1986.

A coleção possui amostras de espécimes de toda a região neotropical – que se estende do sul do México até a América do Sul, com amostras principalmente da América do Sul. Além disso, por meio de intercâmbios mantidos com instituições estrangeiras, também estão depositadas na coleção espécimes de outras regiões biogeográficas do mundo. Novos espécimes são coletados por meio de projetos de pesquisa, com suporte da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e de agências internacionais de apoio à pesquisa. Com a verba concedida, são realizadas coletas em diversas regiões do Brasil. A coleção é supervisionada pela professora Maria Anice Mureb Sallum, que atua na área de taxonomia e ecologia de mosquitos vetores de agentes infecciosos, e atende a demandas tanto de alunos e pesquisadores da FSP quanto de pesquisadores de outras instituições.

Além dos mosquitos, a coleção abriga outros grupos de importância de saúde pública, como os flebotomíneos, vetores, entre outras doenças, de leishmaniose tegumentar e visceral; e os triatomíneos, que incluem espécies vetoras do Trypanosoma cruzi, causador da doença de Chagas.

Confira a página oficial da coleção neste link e clique no player abaixo para conferir mais informações:

 

fonte: Jornal da USP

 

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