Professor de Entomologia da Universidade Federal do Paraná tem coleção de 425 mil borboletas, quer ampliar pesquisa e tornar seu acervo acessível ao público

A duração da paixão de Olaf Mielke tem se mostrado inversamente proporcional à da vida de seu objeto de estudo —as mariposas e borboletas, conjunto conhecido como lepidópteras.

Algumas duram apenas 15 dias, período em que nem chegam a se alimentar. Já ele, hoje com 77 anos, vem desde os 9 coletando espécies cada vez mais exóticas e nutre sonhos relacionados a elas.

As 500 gavetas da coleção entomológica da Universidade Federal do Paraná, instituição onde trabalha desde 1966, contêm diversas espécies novas descobertas por ele, sendo várias do grupo Hesperiidae. O acervo já soma 425 mil exemplares, reunindo entre 3.000 e 4.000 espécies diferentes.

Mesmo aposentado do departamento de zoologia, Mielke mantém suas “caçadas” e orienta direta ou indiretamente 20 estudantes entre mestrado e pós-doutorado.

Há toda uma geração de jovens que seguiu o tema de pesquisa escolhido por ele ainda nos anos 1960, quando trabalhava no Museu Nacional do Rio de Janeiro.

Acessível apesar do grande status científico, Mielke conta que optou pela obsessão nas lepidópteras porque “em pesquisa, se você começa a divagar, é muito difícil produzir algo bom”.

As espécies coletadas por ele e colegas ao redor da América Latina, muitas delas armazenadas, mas ainda não analisadas, renderiam trabalho infinito, diz o professor Eduardo Carneiro, 32, um dos discípulos de Mielke.

“Ele fez muito pela descrição da biodiversidade brasileira. Imagina viver num mundo onde não se conhece nada ao redor?”

E Mielke acredita que, no Brasil, ainda são desconhecidas de 10 a 30% das espécies de borboletas. Conhecer tanto esses seres tão efêmeros na cadeia alimentar pode parecer puro detalhismo para um leigo, mas uma aplicação prática desse estudo ficou clara no fim do ano no litoral do Paraná.

Desde novembro passado, o contato com as escamas da Hylesia nigricans, mariposa urticante, levou quase 2.000 pessoas a procurar atendimento médico em seis cidades, com irritações na pele. Surtos assim são atribuídos a desequilíbrios no ecossistema, como o desmatamento.

Além da ampliação das pesquisas, outro sonho de Mielke é ver aberta ao público a coleção à qual dedicou sua vida. Por sorte, existe um projeto da UFPR para abrir um museu de História Natural em Curitiba que reúna o acervo espalhado por toda a universidade, em parceria com o município. Resta esperar que a ideia frutifique.

Mielke ainda sonha em coletar borboletas na Terra do Fogo, no extremo sul da Argentina, completando assim seu percurso por quase toda a América Latina.

Fonte: Jornal Folha de São Paulo

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