Megaestrutura Subterrânea de Cupinzeiros com 200 milhões de cupins foi descoberta no Brasil. A quantidade de pilhas de lixo, conhecidos como “murundus”, – algumas com 4.000 anos de idade – estão espalhadas por uma área do tamanho da Grã-Bretanha.
Se os construtores das estruturas fossem humanos, ninguém hesitaria em chamar suas obras de faraônicas –até porque, com cerca de 4.000 anos de idade, elas de fato são quase tão antigas quanto as pirâmides do Egito. Os responsáveis pelos 200 milhões de monumentos espalhados pela caatinga, porém, são pequenos cupins.
Ao longo de milênios de paciente construção de túneis, em busca das folhas caídas de que se alimentam, os insetos da espécie Syntermes dirus acabaram acumulando os milhões de montículos de terra, que ocupam uma área similar à do Reino Unido no interior nordestino (veja mapa). Cada uma das pequenas torres tem, em média, 2,5 metros de altura e 9 metros de diâmetro.
Uma metrópole de 200 milhões de cupins foi descoberta no Brasil. A quantidade de pilhas de lixo – algumas com 4.000 anos de idade – estão espalhadas por uma área do tamanho da Grã-Bretanha.
A extensão sem precedentes da rede de montículos ou murundus, como são chamados pelos moradores da região foi revelada em artigo recente na revista científica Current Biology.
Assinam o estudo os pesquisadores Stephen Martin, da Universidade de Salford (Reino Unido), e Roy Funch, biólogo nascido nos EUA que está radicado na Chapada Diamantina desde os anos 1970 e fez seu doutorado na Universidade Estadual de Feira de Santana (BA).
“Os murundus são fascinantes. Ficamos impressionados com o tamanho, a extensão e a regularidade deles. Podemos dizer que estão entre as maiores construções feitas no planeta por qualquer espécie além do ser humano”, disse Funch à Folha. Além de doutor em botânica, ele também é guia turístico e artesão. “Quem vive no interior tem de fazer um pouco de tudo”, brinca.
Embora as estruturas fossem, é claro, velhas conhecidas dos sertanejos, muitos não tinham ideia de sua origem. Segundo o biólogo, alguns acham até que os morrinhos são resquícios do dilúvio bíblico.
Foi graças a uma combinação de trabalho de campo e análise de imagens de satélite que os cientistas conseguiram elucidar a natureza dos murundus. Em resumo, o que parece estar acontecendo há pelo menos alguns milênios é a operação de um sistema metódico de remoção de entulho.
Conforme os cupins vão abrindo vastas galerias e túneis, com diâmetros de até 10 cm, em busca das folhas que caem pelo chão da caatinga, eles precisam depositar o solo removido por seu trabalho em algum lugar.
Assim começam a se formar a se formar os murundus, com espaçamento de cerca de 20 metros entre si – o número “mágico” provavelmente tem a ver com a eficiência energética da operação, com os bichos escolhendo pontos nem perto e nem longe demais para desovar o entulho.
No caso das estruturas já formadas há muito tempo, amostras extraídas do núcleo delas foram datadas por meio de um método normalmente usado com artefatos arqueológicos, revelando a surpreendente antiguidade dos morrinhos. Tanto o clima seco da região como as características específicas do solo ali devem ter contribuído para que eles ficassem preservados durante tanto tempo.
Um dos principais mistérios ligados aos murundus é a localização dos ninhos dos cupins: ninguém ainda sabe onde eles ficam. Os pesquisadores pretendem usar uma retroescavadeira para cavoucar o terreno em busca da morada dos insetos.
Em torno dos murundus já imponentes ainda há atividade constante dos bichos, que abrem túneis pequenos e temporários para chegar à superfície durante a noite. Não se sabe ainda se a rede foi inteira montada pelos descendentes de um único cupinzeiro.
Um dado curioso é que os insetos que vivem ao redor de murundus próximos, quando colocados em contato, não saem brigando entre si, mas o contrário ocorre quando cupins de um montículos são levados para outro a 50 km de distância: o combate é imediato.
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