Descoberta pode diminuir custos, otimizar processos e, ainda mais importante: deve

amenizar problemas de saúde pública

 

Foi divulgado recentemente, em um artigo do PNAS (Proceedigns of the National Academy of Sciences of the United States of America), que cientistas desvendaram o mecanismo de atuação do composto químico repelente para mosquitos, o DEET, por pesquisadores da University of California, em Davis, nos Estados Unidos, com coordenação do brasileiro Walter Leal.

Esse composto foi desenvolvido pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos, nos anos 1940, e passou a ser utilizado em todo o mundo como repelentes para insetos, aplicados diretamente sobre a pele.

Para repelir os insetos, o DEET interfere no funcionamento de receptores sensoriais de suas antenas, mas, até então, o mecanismo que tornava isso possível não era completamente conhecido. A equipe de Leal estou os hábitos do mosquito doméstico tropical Culex quinquefasciatus, aquele mais comum e conhecido no Brasil como pernilongo, que é capaz de transmitir doenças como encefalites e filariose. Assim, os pesquisadores chegaram ao receptor olfativo afetado, o OR136, mapeando o transcriptoma da antena do mosquito, pesquisando como e quando os genes do animal funcionam em contato com o repelente.

Para confirmar os resultados, foram realizados testes eletrofisiológicos e comportamentais dos genes em rãs africanas, a Xenopus laevis. Segundo o pesquisador Leal, os resultados sugerem que há uma grande variedade de organismos sensíveis ao DEET por meio do mesmo receptor, fato que amplia a descoberta a outras espécies de insetos: “Dessa forma, a resposta de muitos artrópodes ao DEET pode ser a mesma. A chave está no receptor que encontramos e que pode agora ser alvo de estudos para potencializar o efeito de novos repelentes”, afirmou Leal.

Essa pesquisa teve início em 2008, quando o grupo descobriu um nervo do mosquito que respondia ao DEET, com mais de 150 receptores.

A descoberta do mecanismo do repelente poderá fazer com que repelentes mais eficientes e seguros sejam desenvolvidos, evitando possíveis riscos à saúde humana e ao meio ambiente. Isso porque, além do receptor OR136, foi descoberto que o DEET age de forma parecida a um repelente natural de plantas, liberado quanto elas estão prestes a sofrer ataques de insetos, o metil jasmonato: “Os receptores dos insetos estão geralmente ligados a substâncias encontradas na natureza, com funções específicas. Há receptores para feromônios, por exemplo, outros para materiais em decomposição, para a água. Descobrimos que o receptor que acusa o DEET responde ao metil jasmonato”.

Essa descoberta, além de poder gerar redução de custos e otimizar processos, acima de tudo, pode representar uma boa saída para amenizar casos graves de saúde pública no mundo inteiro, como os de malária, dengue, leishmaniose, esquistossomose, febre amarela e outras doenças transmitidas por insetos que podem ser evitados pelo uso correto do DEET.

“Doenças transmitidas por mosquitos causam mais perdas humanas do que as guerras, por exemplo. Os insetos são como agulhas infectadas ameaçando populações, afetando a vida das pessoas em diversos aspectos: pessoais, sociais ou econômicos. Na falta de vacinas para muitas dessas doenças, o uso de repelentes é uma alternativa importante”, explicou o pesquisador Walter Leal.

Fonte: Agência Fapesp

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