Manejo Ecológico de Pragas e o Controle integrado de Pragas são ações aliadas na contenção do declínio populacional desses animais
A queda no número da população de animais polinizadores, entre eles as abelhas, moscas-das-flores (sirfídeos) e borboletas no mundo todo, principalmente, na Europa, Estados Unidos, no Oriente Médio e no Japão, já é fato comprovado por pesquisas.
Apesar de o crescimento do manejo de colmeias de abelhas utilizadas pelos agricultores para polinização tenha sido de 45% entre 1950 e 2000, segundo um artigo publicado na revista Current Biology, as áreas agrícolas também aumentaram 300% no mesmo período. Os números citados demonstram que já se faz necessário um plano de ação para reverter o cenário de declínio de espécies polinizadores e, consequentemente, conter os danos à agricultura e à saúde alimentar.
Boa parte dessas ações pode ser tomada por indústrias, mesmo por aquelas instaladas em centro urbanos. A utilização de métodos menos agressivos de controle de pragas, por exemplo, pode ser um dos fatores para minimizar o impacto ambiental. Para isso, o manejo ecológico de pragas é a melhor saída, visto que age de maneira inteligente e eficaz, pois garante a eliminação e a prevenção da presença de pragas com uso de menor quantidade de inseticidas, por exemplo. Além disso, outras ações estratégicas, como a análise detalhada das espécies a serem combatidas fazem com que os resultados sejam ainda mais positivos, sem gerar impactos negativos no meio ambiente, como acontece com técnicas de controle mais primitivas.
Neste contexto, foi divulgado, recentemente, o encontro de um grupo de 75 pesquisadores de diversos países-membros da IPBES (sigla em inglês de Plataforma Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos), que engloba, ao todo, 119 nações, para realizar uma avaliação, em escala global, sobre polinizadores, polinização e produção agrícola.
Sobre o encontro, em entrevista à Agência Fapesp, a pesquisadora Vera Imperatriz Fonseca, do Instituto de Bio-ciências da USP (Universidade de São Paulo) e do ITVDS (Instituto Tecnológico Vale Desenvolvimento Sustentável), disse: “A ideia do trabalho é avaliar todo o conhecimento existente sobre polinização no mundo e identificar estudos necessários na área para auxiliar os tomadores de decisão dos países a formular políticas públicas para a preservação desse e de outros serviços ecossistêmicos prestados pelos animais polinizadores”.
Neste cenário, a pesquisadora explicou ainda que, hoje, há mais de 100 mil espécies de animais invertebrados polinizadores no mundo, sendo que 20 mil deles são abelhas. Além disso, existem, aproximadamente, outros 1,2 mil vertebrados: entre eles pássaros, morcegos e diversos répteis, que acabam atuando como polinizadores.
Atrelado a isso, estima-se que 75% dos cultivos mundiais e entre 78% e 94% das flores silvestres dependam dos animais polinizadores para a reprodução: “Há cerca de 300 mil espécies de flores silvestres que dependem da polinização por insetos”, apontou Vera.
Para ter ideia da importância da tomada de decisões a respeito dos polinizadores, o valor anual do serviço ecossistêmico prestado por insetos na agricultura é estimado em US$ 361 bi. Já para a manutenção da biodiversidade esse montante é incalculável, conforme ressaltou a pesquisadora Vera.
Países de todo o mundo já se atentaram ao forte declínio da população de polinizadores, que, por sua vez, têm um importante papel no ecossistema, sobretudo nas culturas que são indispensáveis para a alimentação humana. Um dos principais fatores apontados como responsáveis por essa situação é o desmatamento, sobretudo, o de áreas próximas às plantações de alimentos e o uso indiscriminado de alguns pesticidas nas lavouras durante décadas.
Portanto, se esse o declínio de espécies polinizadoras seguir crescente, a produtividade agrícola corre grande risco de ser afetada, além da segurança alimentar, como explica Vera: “A população mundial aumentará muito até 2050 e será preciso produzir uma grande quantidade de alimentos com maior rendimento agrícola, em um cenário agravado pelas mudanças climáticas. A polinização por insetos pode contribuir para solucionar esse problema”.