Tudo começou há dez anos nos EUA. Produtores de mel e outros criadores de abelhas observaram que o número de abelhas em uma determinada colmeia diminuía rapidamente e ela colapsava, deixando de existir. As abelhas simplesmente desapareciam – abelhas mortas não eram encontradas nem na colmeia nem nas redondezas. Tanto na Europa quanto nos EUA esse fenômeno foi ficando tão freqüente que os apicultores começaram a se preocupar como potencial desaparecimento completo das abelhas. Esse fenômeno foi denominado Colony Collapse Disorder (CCD), algo como Síndrome do Colapso das Colônias. Além de produzir mel, as abelhas são responsáveis pela polinização de um número grande de plantas. A possibilidade da CCD levar a uma diminuição significativa do número de colméias causou grande preocupação entre ambientalistas e agricultores.Nos últimos anos,um grande número de estudos tentou identificar a causa da síndrome. Muitos acreditavam que um vírus ou parasita não identificado estava matando as abelhas, outros mencionavam mudanças climáticas, culpavam a agricultura moderna, os agrotóxicos ou os inseticidas.
Agora, finalmente, uma série de experimentos identificou pelo menos um dos culpados, o inseticida thiamethoxan. Esse inseticida é comercializado em todo o mundo há mais de dez anos. Diversos estudos utilizando colméias em áreas tratadas com as concentrações indicadas pelo fabricante nunca haviam demonstrado as conseqüências do inseticida.
Mas um grupo de cientistas franceses, sabendo que o composto agia diretamente sobre os receptores de acetilcolina presentes no cérebro dos insetos, imaginou que doses baixas de inseticidas, apesar de não matar as abelhas, talvez estivesse modificando seu comportamento. Será que as abelhas contaminadas pelo inseticida estavam com dificuldade de achar o caminho para a colmeia e estavam se perdendo? Para testar essa idéia, eles fizeram um experimento muito interessante. Primeiro escolheram uma colméia localizada a 1 km de uma plantação florida. Como a plantação era a única na região com esse tipo de flor, examinando as abelhas que voltavam para a colmeia, eles identificaram as que traziam em seu corpo o pólen dessas flores. Assim, sabiam que essas abelhas já tinham percorrido uma vez o percurso entre a colmeia e a plantação de flores. Entre essas abelhas, 635 foram selecionadas e divididas em dois grupos. Um grupo recebeu uma dose mínima de thiamethoxan (1,34 ng – um nano grama corresponde a um milésimo de um milionésimo de grama), compatível com a dose ingerida quando se alimentam do néctar de flores tratadas com o inseticida. O outro grupo recebeu água. Nas costas das abelhas dos dois grupos, os cientistas colaram minúsculos circuitos de RFID, similares àqueles que existem nos cartões de acesso que liberam as catracas em prédios comerciais.
Na entrada da colméia, eles colocaram leitores de RFID capazes de identificar cada abelha. Assim, quando as abelhas saiam ou entravam na colmeia, o sistema identificava a abelha e o horário de entrada ou saída (o mesmo que os prédios fazem com os visitantes). Os cientistas, então, fizeram dois experimentos. No primeiro, levaram as abelhas de carro até o campo de flores e soltaram os dois grupos no local. Duas horas depois, elas já tinham retornado à colmeia. Mas houve uma diferença: entre as abelhas que receberam água, 85% voltaram para a colmeia; no outro grupo, a taxa foi de 75%.
No segundo experimento, eles levaram as abelhas para cinco pontos localizados, cada um, a 1 km da colméia. Eram locais onde as abelhas nunca haviam estado anteriormente. Novamente os dois grupos de abelhas foram soltos e a volta, monitorada. Nesse caso, a diferença foi maior. Das abelhas que haviam ingerido água, 85% voltaram para casa, mas, dentre as que haviam ingerido inseticida, somente 55% retornaram. Os cientistas construíram modelos matemáticos levando em conta o número de abelhas que nascem na colméia todos os dias e quantas se perdem a cada dia. A redução no numero de abelhas capazes de voltar para a colméia é suficiente para provocar o colapso das colméias. A conclusão é que o inseticida, em doses minúsculas, desorienta as abelhas. Esse estudo demonstra como é difícil avaliar o efeito de um agrotóxico sobre insetos com comportamentos complexos como as abelhas.
FERNANDO REINACH
O ESTADO DE S. PAULO
Quinta-feira, 07 de junho de 2012 – Vida A23
Biólogo Mais informações:
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