A mosca de fruta, ou Drosophila melanogaster, seu nome científico, é um dos organismos modelo mais utilizados na pesquisa genética, pois é fácil de reproduzir em laboratório e tem um tempo de geração curto.
Sim, moscas de frutas gostam de bananas. Você as encontra na cesta quando as frutas começam a estragar.
Mas elas também são um ótimo mecanismo para investigar o tempo ou, mais especificamente, os efeitos do tempo. Isso porque o ciclo de vida delas é tão curto que permite estudá-las por gerações e gerações, o que é quase impossível com humanos.
Elas custam pouco e se reproduzem de maneira extremamente rápida. Em temperatura ambiente, uma fêmea pode botar de 30 a 50 ovos por dia durante sua vida. O ciclo reprodutivo é curto, de 8 a 14 dias, e essas moscas podem se tornar avós e avôs em apenas 3 a 4 semanas.
Com três milímetros de tamanho, populações de milhões desses insetos podem ser mantidas em um laboratório e sustentadas com uma dieta simples de carboidratos e proteínas, geralmente farinha de milho e extratos de levedura.
Os Laureados da Medicina de 2017 usaram moscas da fruta ao isolar um gene que controla o ritmo biológico diário normal.
O Prêmio Nobel categoria “descobertas” foi para Christiane Nüsslein-Volhard, juntamente com as pesquisas de Eric Wieschaus e Edward Lewis, nos ajudaram a entender as causas das mal formações congênitas humanas.
A única maneira de determinar quais genes estavam envolvidos na formação de diferentes segmentos corporais era observar os efeitos de genes deliberadamente lesados no desenvolvimento.
A equipe expôs moscas-das-frutas para substâncias químicas que danificaram seus genes, causando mutações aleatórias. Depois de estudar cerca de 40.000 mutações, eles conseguiram identificar 15 genes que controlam as fases iniciais do desenvolvimento embrionário em moscas-das-frutas.
Esses 15 genes, se mutados, causariam defeitos no padrão de segmentação das moscas-das-frutas.
Os princípios encontrados na mosca da fruta aplicam-se também a organismos superiores, incluindo seres humanos.
Em 1933, Thomas Hunt Morgan ganhou um prêmio Nobel por estudar como a Drosophila recebia de herança uma mutação genética que deixava seus olhos brancos, e não vermelhos.
A pesquisa de Morgan levou à teoria sobre genes produzidos pelo DNA serem carregados por cromossomos, que eram transmitidos por gerações. A descoberta preparou o terreno para a genética moderna e o estudo da teoria cromossômica da herança.
Desde então, estudos conduzidos nessas moscas levaram a cinco premiações no Nobel, em 1946, 1995 e 2011. Conhecimento atual sobre como nos desenvolvemos, nosso comportamento, envelhecimento e evolução todos são construídos sobre a base dessas pesquisas com moscas-da-fruta.
E quanto mais as estudamos mais descobrimos que somos parecidos: 75% dos genes associados a doenças humanas têm um correspondente identificável na mosca-da-fruta.
A Drosophila tem quatro pares de cromossomos e cerca de 14 mil genes. Compare isso com os humanos, que têm cerca de 22,5 mil genes, e a levedura, com 5,8 mil genes, e somos muito mais parecidos do que você possa imaginar.
Essa proximidade genética relativa significa que experimentos com Drosophila podem ser traduzidos de maneira efetiva para humanos. Deixamos as moscas bêbadas para estudar o vício ao álcool, investigamos o sono delas e como são afetadas pelo café e descobrimos que moscas mais velhas dormem menos.
Os primeiros genes do “jet lag“, alteração do ritmo biológico de 24 horas consecutivas que ocorre após mudanças do fuso horário em longas viagens de avião, foram identificados em moscas, e hoje sabemos que também os temos.
No Brasil temos O Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética (CBMEG) na Unicamp, que é um centro de referência que atua no desenvolvimento de pesquisas nos campos da genética animal, vegetal, humana e de microrganismos, principalmente de insetos como a mosca de fruta, ou Drosophila melanogaster.